Taxa marginal de substituição

Em microeconomia, a taxa marginal de substituição do bem A pelo bem B, representado por TMgS (B,A), mede a taxa à qual o consumidor está propenso a substituir o bem A pelo bem B [1]. Em outras palavras, esta taxa mede uma troca: o número de unidades do bem B (adquiridas) por unidade do bem A (sacrificada), desde que a troca busca mantenha o mesmo nível de satisfação (utilidade) do consumidor.

Esse nível de satisfação é representado matematicamente por uma utilidade, cuja imagem gráfica é chamada de mapa de curvas de indiferença. Cada ponto pertencentes a uma mesma curva de indeferença representa uma cesta composta por diferentes quantidades dos bens A e B, porém todas as cestas de uma mesma curva de indiferença apresentam a mesma utilidade para o consumidor. Entretanto, a cada ponto da curva (cada cesta) corresponde uma distinta taxa marginal de substituição.

A TMgS referente a uma cesta é dada pelo valor da derivada no ponto da curva de indiferença que representa a aludida cesta de bens (inclinação da reta tangente à curva naquele ponto). Dessa forma, a TMgS possui valor diferente para cada cesta representada pela curva, exceto em curvas de indiferença de bens substitutos ou complementares perfeitos, onde a TMgS é (localmente) constante.

A taxa marginal de substituição depende da quantidade de cada bem que o consumidor possui no momento. Por princípio intuitivo, afirma-se que cada nova unidade de um determinado bem possui menos utilidade do que a unidade imediatamente anterior. Para compreender esse conceito, basta imaginar alguém "matando a sede": o primeiro copo d'água possui maior utilidade (satisfação) do que o segundo, este maior do que o terceiro, e assim por diante. Isso mostra que a utilidade de um bem é decrescente.

Análise matemática básica

Represente a função de utilidade como U ( x , y ) {\displaystyle U(x,y)} , onde U é a função de utilidade, x e y são bens. Adicionalmente:

U x = U / x {\displaystyle {\color {Red}U_{x}=\partial U/\partial x}} = utilidade marginal com respeito ao bem x
U y = U / y {\displaystyle {\color {OliveGreen}U_{y}=\partial U/\partial y}} = utilidade marginal com respeito ao bem y

Ao tomarmos a Diferencial total da função de utilidade, obtém-se:

  d U = U / x d x + U / y d y {\displaystyle \ dU={\color {Red}\partial U/\partial x}dx+{\color {OliveGreen}\partial U/\partial y}dy} , ou, substituindo,   d U = U x d x + U y d y {\displaystyle \ dU={\color {Red}U_{x}}dx+{\color {OliveGreen}U_{y}}dy}

Considerando a Derivada total da função de utilidade com respeito ao bem x,

d U d x = U x d x d x + U y d y d x {\displaystyle {\frac {dU}{dx}}=U_{x}{\frac {dx}{dx}}+U_{y}{\frac {dy}{dx}}} , ou seja, d U d x = U x .1 + U y d y d x {\displaystyle {\frac {dU}{dx}}=U_{x}.1+U_{y}{\frac {dy}{dx}}} .

Em qualquer ponto da curva de indiferença temos dU/dx = 0, porque U = c, onde c é uma constante. Então:

0 = U x + U y d y d x {\displaystyle 0=U_{x}+U_{y}{\frac {dy}{dx}}} , rearrumando, d y d x = U x U y {\displaystyle -{\frac {dy}{dx}}={\frac {\color {Red}U_{x}}{\color {OliveGreen}U_{y}}}}

A taxa marginal de substituição é definida como menos a inclinação da curva de indiferença para qualquer cesta de bens que se considere (lado esquerdo da equação acima). Dessa maneira, ela se torna igual à razão entre as utilidades marginais de x e y:

  T M g S x y = {\displaystyle \ TMgS_{xy}=} U x U y {\displaystyle {\color {Red}-U_{x}} \over {\color {OliveGreen}U_{y}}} = {\displaystyle =} U / x U / y {\displaystyle {\color {Red}-\partial U/\partial x} \over {\color {OliveGreen}\partial U/\partial y}} .[2]

Propriedades

Quando os consumidores maximizam utilidade sujeitos a uma restrição orçamentária, a curva de indiferença é tangente à reta orçamentária, que representa as cestas de bens que custam exatamente a renda do consumidor, ou seja, considerando a renda m e os preços p x {\displaystyle p_{x}} e p y {\displaystyle p_{y}} :

  m = p x x + p y y {\displaystyle \ m=p_{x}x+p_{y}y} é, por definição, a reta orçamentária. Então:
  y = m p y p x p y x {\displaystyle \ y={\frac {m}{p_{y}}}-{\frac {p_{x}}{p_{y}}}x}

Mas a TMgS tangencia a reta orçamentária, possuindo a mesma inclinação dela nesse ponto: T M g S x y = d y / d x {\displaystyle TMgS_{xy}=-dy/dx} , ou seja, T M g S x y = p x / p y {\displaystyle TMgS_{xy}=p_{x}/p_{y}} . Dessa forma, quando o consumidor escolhe a cesta que maximiza sua utilidade, dentro de sua restrição orçamentária,

  U x / U y = p x / p y {\displaystyle \ U_{x}/U_{y}=p_{x}/p_{y}}
  U x / p x = U y / p y {\displaystyle \ U_{x}/p_{x}=U_{y}/p_{y}}

Este resultado importante nos diz que o consumidor maximiza utilidade ao alocar os recursos orçamentários de tal maneira que mantenha a mesma razão entre a utilidade marginal e preços para todos os bens. A intuição econômica por trás desse resultado é que o consumidor maximiza utilidade ao igualar: i) a razão de troca dada pelo mercado, p x p y {\displaystyle _{\frac {p_{x}}{p_{y}}}} , que informa o custo de oportunidade da aquisição de uma unidade de x em termos de p x p y {\displaystyle _{\frac {p_{x}}{p_{y}}}} unidades do bem y; e ii) a razão entre as utilidades marginais de x e y, que é a taxa marginal de substituição, a quantidade que o consumidor abre mão no consumo de y para consumir mais de x, permanecendo com o mesmo nível de satisfação, ou seja, permanecendo na mesma curva de indiferença.

  • Num ótimo interior (ou seja, que não é de canto), a taxa marginal de substituição entre quaisquer dois bens deve ser igual à razão entre seus preços[2]
U / x U / y = p x p y {\displaystyle {\frac {\color {Red}\partial U/\partial x}{\color {OliveGreen}\partial U/\partial y}}={\frac {p_{x}}{p_{y}}}}

Equilíbrio econômico

Quando as taxas marginais de substituição entre o bem x e o bem y forem diferentes para dois consumidores (consumidor i {\displaystyle {\color {RubineRed}i}} e consumidor j {\displaystyle {\color {RoyalBlue}j}} ), isso significa que o consumidor "i" confere maior valor a um bem, enquanto o indivíduo "j" confere maior valor a outro. Nessa situação, há espaço para uma troca mutuamente benéfica (ou seja, uma melhora de Pareto)[3].

O equilíbrio econômico é atingido quando a taxa marginal de substituição entre cada par de bens é igual para todos os consumidores. Matematicamente, portanto, teremos[3]:

Fórmula matemática Interpretação
:   T M g S x y i = {\displaystyle \ TMgS_{xy}^{\color {RubineRed}i}=}   T M g S x y j {\displaystyle \ TMgS_{xy}^{\color {RoyalBlue}j}} No equilíbrio econômico, a taxa marginal de substituição entre os bens x e y, para o consumidor i {\displaystyle {\color {RubineRed}i}} , é idêntica á taxa marginal de substituição entre os mesmos bens para o consumidor j {\displaystyle {\color {RoyalBlue}j}}
( U x U y ) i {\displaystyle \left({\frac {\color {Red}U_{x}}{\color {OliveGreen}U_{y}}}\right)^{\color {RubineRed}i}} = {\displaystyle =} ( U x U y ) j {\displaystyle \left({\frac {\color {Red}U_{x}}{\color {OliveGreen}U_{y}}}\right)^{\color {RoyalBlue}j}} Como a taxa marginal de substituição é igual entre a razão entre as utilidades marginais, o equilíbrio econômico também pode ser entendido como: a razão entre as utilidades marginais para dos bens y e y, para o i {\displaystyle {\color {RubineRed}i}} , deve ser igual à razão do consumidor j {\displaystyle {\color {RoyalBlue}j}}

A Taxa Marginal de Substituição Técnica

A taxa marginal de substituiçaõ técnica é a taxa analoga a TMgS para o lado da oferta, em um mercado. Essa taxa representa o que uma empresa pode substituir de um fator produtivo por outro, mantendo o mesmo nível de produção. Num mapa de curvas isoquantas a Taxa Marginal de Substituição Técnica, é dada, assim como a TMgS, pela inclinação da curva que passa no ponto que representa da referida combinação de fatores de produção.

Referências

  1. VARIAN, Hal. Microeconomia - Principios Basicos. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2006, 9ª reimpressão, p. 50. Tradução da 7ª edição em inglês.
  2. a b MAS-COLELL, Andreu; WHINSTON, Michael D., e GREEN, Jerry R. Microeconomic Theory. Oxford University press, 1995. ISBN 978-0-19-507340-9. Página 54.
  3. a b RESENDE, Caio Cordeiro de. Falhas de Mercado: uma análise comparativa da escola do setor público tradicional e da escola austríaca. Brasília: 2012, p. 24-5. Disponível em: <http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/11094/2/2012_CaioCordeirodeResende.pdf>. Acesso em: 30 de setembro de 2013.
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