Problema de Euler dos três corpos

Energia potencial gravitacional no problema de Euler dos três corpos.

Em física e astronomia, o problema de Euler dos três corpos, estudado por Leonhard Euler, é o problema do movimento de uma massa de teste que se move livremente na presença de um campo gravitacional de duas massas fixas no espaço.[1] Este problema é o problema dos três corpos mais simples que mantém seu significado físico. Euler o discutiu em memórias publicadas em 1760.

O problema é solúvel analiticamente mas requer o cálculo de integrais elípticas.[2] Métodos numéricos podem ser usados, tal como o Runge-Kutta, para resolver aproximadamente a equação diferencial ordinária resultante.

Exemplo de órbitas bicêntricas

Em mecânica clássica, o problema de Euler dos três corpos descreve o movimento de uma partícula no plano sob a influência de dois centros fixos, cada qual atraindo a partícula com uma força proporcional ao inverso do quadrado das distâncias tais como a gravitacional newtoniana ou coulombiana. Exemplos do problema de bicentro incluem um planeta movendo-se ao redor de duas estrelas, ou um elétron movendo-se no campo elétrico de dois núcleos positivamente carregados, tal como o primeiro íon da molécula de hidrogênio, isto é, o H2+. Soluções analíticas para as energias quânticas são fornecidas pela versão generalizada da função W de Lambert.[3] A intensidade das duas atrações não podem ser iguais; assim, as duas estrelas devem ter massas diferentes ou os dois núcleos devem ter cargas diferentes.

Solução

Seja o centro fixo de atração localizado ao longo do eixo x em ±a. A energia potencial da partícula em movimento é dada por

V ( x , y ) = μ 1 ( x a ) 2 + y 2 μ 2 ( x + a ) 2 + y 2 . {\displaystyle V(x,y)={\frac {-\mu _{1}}{\sqrt {\left(x-a\right)^{2}+y^{2}}}}-{\frac {\mu _{2}}{\sqrt {\left(x+a\right)^{2}+y^{2}}}}.}

Os dois centros de atrações pode ser consideradas como o foco de um conjunto de elipses. Se cada centro for ausente, a partícula moveria-se em uma dessas elipses, como uma solução do problema de Kepler. Entretanto, de acordo com o teorema de Bonnet, as mesmas elipses são soluções para o problema de bicentro.

Introduzindo coordenadas elípticas,

x = a cosh ξ cos η , {\displaystyle \,x=\,a\cosh \xi \cos \eta ,}
y = a sinh ξ sin η , {\displaystyle \,y=\,a\sinh \xi \sin \eta ,}

a energica potencial pode ser escrita como

V ( ξ , η ) = μ 1 a ( cosh ξ cos η ) μ 2 a ( cosh ξ + cos η ) = μ 1 ( cosh ξ + cos η ) μ 2 ( cosh ξ cos η ) a ( cosh 2 ξ cos 2 η ) , {\displaystyle V(\xi ,\eta )={\frac {-\mu _{1}}{a\left(\cosh \xi -\cos \eta \right)}}-{\frac {\mu _{2}}{a\left(\cosh \xi +\cos \eta \right)}}={\frac {-\mu _{1}\left(\cosh \xi +\cos \eta \right)-\mu _{2}\left(\cosh \xi -\cos \eta \right)}{a\left(\cosh ^{2}\xi -\cos ^{2}\eta \right)}},}

e a energia cinética como

T = m a 2 2 ( cosh 2 ξ cos 2 η ) ( ξ ˙ 2 + η ˙ 2 ) . {\displaystyle T={\frac {ma^{2}}{2}}\left(\cosh ^{2}\xi -\cos ^{2}\eta \right)\left({\dot {\xi }}^{2}+{\dot {\eta }}^{2}\right).}

Este é um sistema dinâmico de Liouville se ξ e η são tomados como φ1 e φ2, respectivamente; portanto, a função Y toma a forma

Y = cosh 2 ξ cos 2 η {\displaystyle \,Y=\cosh ^{2}\xi -\cos ^{2}\eta }

e a função W toma a forma

W = μ 1 ( cosh ξ + cos η ) μ 2 ( cosh ξ cos η ) {\displaystyle W=-\mu _{1}\left(\cosh \xi +\cos \eta \right)-\mu _{2}\left(\cosh \xi -\cos \eta \right)}

Utilizando a solução geral para sistemas dinâmico de Liouville,[4] obtemos

m a 2 2 ( cosh 2 ξ cos 2 η ) 2 ξ ˙ 2 = E cosh 2 ξ + ( μ 1 + μ 2 a ) cosh ξ γ {\displaystyle {\frac {ma^{2}}{2}}\left(\cosh ^{2}\xi -\cos ^{2}\eta \right)^{2}{\dot {\xi }}^{2}=E\cosh ^{2}\xi +\left({\frac {\mu _{1}+\mu _{2}}{a}}\right)\cosh \xi -\gamma }
m a 2 2 ( cosh 2 ξ cos 2 η ) 2 η ˙ 2 = E cos 2 η + ( μ 1 μ 2 a ) cos η + γ {\displaystyle {\frac {ma^{2}}{2}}\left(\cosh ^{2}\xi -\cos ^{2}\eta \right)^{2}{\dot {\eta }}^{2}=-E\cos ^{2}\eta +\left({\frac {\mu _{1}-\mu _{2}}{a}}\right)\cos \eta +\gamma }

Introduzindo um parâmetro u pela fórmula

d u = d ξ E cosh 2 ξ + ( μ 1 + μ 2 a ) cosh ξ γ = d η E cos 2 η + ( μ 1 μ 2 a ) cos η + γ , {\displaystyle du={\frac {d\xi }{\sqrt {E\cosh ^{2}\xi +\left({\frac {\mu _{1}+\mu _{2}}{a}}\right)\cosh \xi -\gamma }}}={\frac {d\eta }{\sqrt {-E\cos ^{2}\eta +\left({\frac {\mu _{1}-\mu _{2}}{a}}\right)\cos \eta +\gamma }}},}

resulta na solução paramétrica

u = d ξ E cosh 2 ξ + ( μ 1 + μ 2 a ) cosh ξ γ = d η E cos 2 η + ( μ 1 μ 2 a ) cos η + γ . {\displaystyle u=\int {\frac {d\xi }{\sqrt {E\cosh ^{2}\xi +\left({\frac {\mu _{1}+\mu _{2}}{a}}\right)\cosh \xi -\gamma }}}=\int {\frac {d\eta }{\sqrt {-E\cos ^{2}\eta +\left({\frac {\mu _{1}-\mu _{2}}{a}}\right)\cos \eta +\gamma }}}.}

Desde que estas sejam integrais elípticas, as coordenadas ξ e η podem ser expressas como funções elípticas de u.

Constante de movimento

O problema bicêntrico conserva a energia, isto é, a energia total E é uma constante de movimento. No entanto, o problema possui uma segunda constante de movimento, nomeadamente

r 1 2 r 2 2 ( d θ 1 d t ) ( d θ 2 d t ) 2 c [ μ 1 cos θ 1 + μ 2 cos θ 2 ] , {\displaystyle r_{1}^{2}r_{2}^{2}\left({\frac {d\theta _{1}}{dt}}\right)\left({\frac {d\theta _{2}}{dt}}\right)-2c\left[\mu _{1}\cos \theta _{1}+\mu _{2}\cos \theta _{2}\right],}

a partir do qual o problema pode ser resolvido utilizando o método do último multiplicador.

Ver também

Referências

  1. Walter J. Wild, The Smithsonian/NASA Astrophysics Data System, Euler's three-body problem, publicado em American Journal of Physics, Volume 48, Issue 4, pp. 297-301 (1980), disponível no site Digital Library for Physics and Astronomy, da High Energy Astrophysics Division do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics da Universidade de Harvard [em linha]
  2. Whittaker, E. T. (1937). A Treatise on the Analytical Dynamics of Particles and Rigid Bodies, with an Introduction to the Problem of Three Bodies 4th ed. New York: Dover Publications. pp. 97–99. ASIN B0006AQI82 
  3. T.C. Scott, M. Aubert-Frécon e J. Grotendorst (2006). "New Approach for the Electronic Energies of the Hydrogen Molecular Ion", Chem. Phys. 324: 323-338, [1]; Arxiv article [2]
  4. Liouville (1849). «Mémoire sur l'intégration des équations différentielles du mouvement d'un nombre quelconque de points matériels». Journal de Mathématiques Pures et Appliquées. 14: 257–299