Bairro das Estacas

O Bairro das Estacas, situado no Bairro de Alvalade, também conhecido como estudo de conjunto da célula 8, é considerado um exemplo de arquitectura moderna para a época. Apesar de propor estrutura habitacional sobre pilotis e de abrir o quarteirão, não quebra com o pedido no plano, mudam apenas o nome do logradouro, que passa a ser um local público.[1] Conseguimos identificar no Bairro de Alvalade conceitos urbanísticos diversos de outros modelos de cidade, no entanto, não se limita a reinterpretar esses modelos, faz uma síntese de todos os elementos e influências.[2] Este bairro situa-se no concelho de Lisboa pertencendo à zona do centro da cidade, limitado pela linha do comboio, Avenida Almirante Gago Coutinho, Avenida dos Estados Unidos da América e Avenida da República. A zona de Alvalade desde os seus primeiros estudos que é entendida como uma zona de grande privilégio à expansão da cidade, uma vez que os seus terrenos eram fáceis de negociar e pelo seu amplo espaço que dava a oportunidade de desenhar traços generosos. Os primeiros estudos de desenho urbano acontecem de 1938-39 sendo concluído em 1942 com a participação do arquitecto-urbanista Faria da Costa, sofrendo em 1944 grandes alterações.[3]

O projecto dos arquitectos Rui Jervis Atouguia e Sebastião Formosinho Sanchez propõe uma leitura diferente do habitual. Nesta sugerem a abertura do quarteirão nos topos, criando espaços verdes e espaços públicos, contrariando o tradicional quarteirão totalmente fechado. Outra das propostas inovadoras é a elevação do edificado sobre pilotis.Estes alternam com espaços comerciais, proporcionando espaços abertos e fechados permitindo uma livre circulação pedonal.[4]

Bairro das Estacas

A proposta do Bairro das Estacas baseava-se na construção de uma série de blocos de edifícios de habitação, perpendiculares a estrada, paralelos entre si que viriam a substituir os grandes quarteirões que haviam sido previstos no plano. Estes blocos estão assentes sobre pilotis, que deu origem ao seu nome, permitindo a ocupação da sua parte inferior como um extenso espaço verde, dando prioridade ao percurso pedonal e qualificando a mesma zona. Os arquitectos responsáveis pela concretização deste projecto, como já identificados, foram Ruy Jervis Athouguia e Sebastião Formosinho Sanches, sendo este bairro premiado na Bienal de S. Paulo bem como prémio Municipal de Arquitectura de 1954, uma vez que rompeu com o modelo de arquitectura tradicional, que tanto era o gosto no Estado Novo, afastando-se de uma arquitectura de regime para o modernismo.[4]

Também designado por Zona Comercial a opção por vazar o piso térreo fez com que fosse possível o acesso directo aos logradouros, ocupando-os com comércio, estes passaram a ser também tratados como espaços verdes de lazer, ficando deste modo a ser espaços de utilização pública, que foi objeto do projecto paisagístico de Gonçalo Ribeiro Telles.[4]

Como já havia sido referido, os edifícios organizados em blocos são desenvolvidos segundos os cinco pontos para uma nova arquitectura que Le Corbusier defendia, a cobertura em laje coberta por chapa ondulada permitindo que o desenho dos objetos permanecem puros, grandes vãos em comprimento e varandas corridas moduladamente interrompidas com grelhas de betão, com quebra luzes verticais na fachada poente de maneira a controlar a incidência solar. São tornados como dados programáticos os valores da topografia, da insolação, do programa, das zonas verdes úteis, da racionalidade e do funcionalismo.[5]

A construção deste bairro deu-se por finalizada em 1951, sendo a novidade o edifício habitacional do lote 1, que se apresenta como um bloco de doze pisos, assente sobre pilotis, fazendo a ligação da célula 8 à Avenida de Roma.[6]

O afastamento da construção tradicional, com a abertura dos quarteirões fazem a diferenciação entre as ruas principais e as secundárias. A libertação do solo, a disposição do edificado por causa da insolação, bem como, as vistas muito mais apelativas são um novo legado na arquitectura moderna. Os vários edifícios fundem-se, formando um conjunto habitacional de maior volume possibilitando do que o tradicional, a abertura de espaços verdes com a possibilidade da passagem de peões é outra das características da arquitectura moderna. Na construção do edificado verifica-se a repetição dos elementos, tornando-o interessante. A materialidade do conjunto consiste numa estrutura de betão armado, pilares, vigas e lages maciças; a cobertura é também em lage de fibrocimento ondulado e possui o algeroz ao centro.[7]

O Bairro das Estacas passa a ser assim também considerado um paradigma de Alvalade devido à opção dos arquitectos por elevar o volume de maneira a criar um vazio no seu piso térreo, o que fez com que houvesse uma maneira nova de ver os logradouros, uma vez que se tornaram espaços públicos.

Referências

  1. Costa, João (2010). Bairro de Alvalade - Um Paradigma no Urbanismo Português (4.ª ed.). Lisboa: Livros Horizonte, p. 10
  2. Costa, João (2010). Bairro de Alvalade - Um Paradigma no Urbanismo Português (4.ª ed.). Lisboa: Livros Horizonte, p. 25
  3. Costa, João (2010). Bairro de Alvalade - Um Paradigma no Urbanismo Português (4.ª ed.). Lisboa: Livros Horizonte, pp. 9-10
  4. a b c Costa, João (2010). Bairro de Alvalade - Um Paradigma no Urbanismo Português (4.ª ed.). Lisboa: Livros Horizonte, p. 99
  5. Costa, João (2010). Bairro de Alvalade - Um Paradigma no Urbanismo Português (4.ª ed.). Lisboa: Livros Horizonte, p. 110
  6. Costa, João (2010). Bairro de Alvalade - Um Paradigma no Urbanismo Português (4.ª ed.). Lisboa: Livros Horizonte, p. 129
  7. Athouguia, R., & Sanches, F. (1954). Blocos de Habitação - Célula 8 do Bairro de Alvalade. Arquitectura, A. XXVI, 2ª Série, nº 53, 2-5

Ligações externas

  • Bairro das Estacas na página da Câmara Municipal de Lisboa
  • v
  • d
  • e
1902 — 1909
1910 — 1919

1910 Fontes Pereira de Melo, 30 · 1911 Alexandre Herculano, 25-25A · 1912 Villa Sousa · 1913 República, 23 · 1914 Fontes Pereira de Melo, 28-28A · 1915 Liberdade, 206-218 · 1916 Tomás Ribeiro, 58-60 · 1917 Viriato, 5 · 1918 · 1919 Duque de Loulé, 47

1920 — 1929

1920 · 1921 Cova da Moura, 1 (restauro) · 1922 · 1923 República, 49 · 1924 · 1925 · 1926 · 1927 Pensão Tivoli · 1928 Palacete Vale Flor · 1929 Moradia António Bravo

1930 — 1939

1930 Castilho, 64-66 · 1931 Infantaria 16, 92-94 · 1932 · 1933 · 1934 · 1935 · 1936 · 1937 · 1938 Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Fátima · 1939 Columbano Bordalo Pinheiro, 52

1940 — 1949

1940 Edifício do Diário de Notícias · 1941 · 1942 Imprensa, 25 · 1943 António Augusto de Aguiar, 9 · 1944 Pedro Álvares Cabral, 67 · 1945 Sidónio Pais, 14 · 1946 Casal Ribeiro, 12 · 1947 São Francisco Xavier, 8 · 1948 · 1949 Artilharia Um, 105

1950 — 1959

1950 Duarte Pacheco Pereira, 37 · 1951 · 1952 Restelo, 23–23A · 1953 · 1954 Bulhão Pato, 2-14 - Bairro das Estacas · 1955 · 1956 Infante Santo, 70 (Bloco 2) · 1957 Estados Unidos da América, 12-40A (Lote 367) · 1958 Edifício dos Laboratórios Pasteur · 1959

1960 — 1969

1960 · 1961 · 1962 Almirante António Saldanha, 44 · 1963 · 1964 · 1965 · 1966 · 1967 General Silva Freire, 55–55A · 1968 · 1969

1970 — 1979

1970 Edifício América · 1971 Braancamp, 9 - Edifício Franjinhas · 1972 · 1973 · 1974 · 1975 Sede, Jardins e Museu da Fundação Calouste Gulbenkian · 1976 · 1977 · 1978 Maria Veleda, 2-4 · 1979

1980 — 1989

1980 Castilho, 223-233 / Dom Francisco Manuel de Melo, 2-8 · 1981 · 1982 Encosta das Olaias · 1983 · 1984 Edifício do Banco Fonsecas & Burnay · 1985 Edifício do Banco Credit Franco Portugais, Francisco Gentil 6-6E / 8-8E · 1986 · 1987 Instituto Jacob Rodrigues Pereira · 1988 Liberdade, 222 · 1989 Professor Queiroz Veloso, 2-38

1990 — 1999

1990 Século 107-109 / Academia das Ciências 2 / Horta 2-6 · 1991 Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa · 1992 · 1993 Complexo das Amoreiras · 1994 Professor Cavaleiro Ferreira, 4, / José Escada, 3 · 1995 · 1996 · 1997 Edifício Bagatela · 1998 Pavilhão de Portugal, Pavilhão do Conhecimento dos Mares · 1999

2000 — 2009

2000 Edifício C8 da FCUL · 2001 Atrium Saldanha · 2002 Edifício da Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, Edifício II do ISCTE - IUL · 2003 · 2004 Terraços de Bragança, Art''s Business & Hotel Centre, Entrada Norte de Lisboa (qualificação) · 2005 Edifício Sede da Vodafone, Quinta das Conchas e dos Lilases (qualificação) · 2006 · 2007 Estação Terreiro do Paço, Hospital da Luz · 2008 Escola Superior de Música de Lisboa, Estação Metropolitana e Ferroviária do Cais do Sodré · 2009 Edifício do Banco Mais

2010 — 2019
2010 Combro, 125-129 (reabilitação) · 2011 Escola Secundária Vergílio Ferreira, Escola Secundária Rainha Dona Leonor, Escola Básica Francisco de Arruda · 2012 · 2013 ETAR de Alcântara · 2014 Museu do Dinheiro · 2015 Terraços do Carmo · 2016 Cineteatro Capitólio - Teatro Raul Solnado (reabilitação) · 2017 Edifício Sede da EDP, Terminal de Cruzeiros de Lisboa · 2018 · 2019